A mim, de mim.

Oi, gente! Entrando na onda da galera blogueira e aproveitando para falar comigo mesma por meio da escrita, escrevo aqui uma carta para mim. A proposta, lançada pelo Hypeness, sugere que a gente escreva uma carta para si mesmo dez anos atrás, de maneira a cavar fundo na memória os sonhos, as expectativas, as opiniões e até os medos que a gente tinha na década passada. Achei muito legal essa iniciativa! Já faz um tempo que eu estou querendo escrever para mim, mas precisava desse empurrãozinho.

Segue a mim, de mim:

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Florianópolis, 06 de março de 2014.

Nara (a dez anos atrás, essa era a única variação do seu nome):

Que lindinha você!

Toda magrinha, do cabelo e corpo virgens, do sorriso metálico, dos olhos verdes ainda bons, enxergando quase tudo.

Nas unhas, a renda e só.

Sem maquiagem, sem adornos, sem a mínima ideia do que ser quando crescer.

Ah, você não vai crescer!

Pelo menos não em altura.

Mas a sua alma vai expandir de um jeito, menina…

E o seu círculo de amigos também (sem falar nos seios!).

Sua visão vai ser um incômodo. Quatro graus e meio de miopia e astigmatismo em cada olho, pobre do anjo.

Mas a maneira como você enxergará a vida vai compensar esse probleminha genético, acredite em mim.

Menina, como você é tola! 

Você acredita nas pessoas, inclusive no seu pai. Elas e ele irão te decepcionar.

Menina, como você é corajosa!

Você foi criada para agradar, para corresponder, para renunciar, anular a si mesma… E você vai decepcionar.

Mas fique tranquila, a vida tem disso, e todos irão sobreviver.

Seus diários, cadê?

Eu sinto falta deles agora.

Sinto falta das suas narrativas, que você escreve durante as aulas de cálculo, nas últimas páginas do caderno de dez matérias, com canetas de gel e cheirinho bom.

Hoje, elas me fariam rir com mais facilidade.

Já falei que você não vai rir mais tanto assim?

A vida também tem disso.

Mas, mais uma vez, fique tranquila: você, ainda que não tão frequentemente, por causa dos compromissos de adulta, vai dar gargalhadas gostosas numa mesa de bar com pessoas maravilhosas que você nem imagina que vai conhecer.

Sim, você irá a bares. E irá beber. Vai até dar PT algumas vezes, jurando ser a última.

Você vai experimentar coisas que fariam você estremecer de horror ao imaginar, Narinha.

E você vai gostar. E você vai repetir. Algumas até se tornarão parte da sua rotina daqui a dez anos.

Você vai mudar de escola, pintar o cabelo, cortar a franja (e desta eu não sinto a mínima falta), colocar um piercing, beijar sem estar apaixonada, receber um novo apelido (Indi)…

E você vai mudar de casa algumas vezes. Em uma delas você vai ter quatro cachorros. Um de cada vez. Com eles você vai aprender a amar por amar.

Você vai descobrir o sexo de uma maneira meio atrapalhada, e vai rolar uma frustraçãozinha. Mas você vai aprender que uma única noite é pouco tempo para descobrir o sexo. Dez anos ainda não são suficientes.

Você vai passar em dois vestibulares, sua danada! E vai escolher a faculdade que, hoje, eu e você sabemos, escolheu você.

Você vai namorar três caras. De um deles você vai ficar noiva e marcar a data do casamento. Mas o seu anjo da guarda, que em vez de uma auréola tem um ponto de interrogação na cabeça, vai te fazer desistir temporariamente desse sonho e vai te levar para a Ilha da Magia, onde você irá realizar outros sonhos.

Lá, você vai aprender que não existe uma única verdade; que as pessoas podem ser legais ou não, e que isso nada tem a ver com o que elas vestem; que tudo, absolutamente tudo, é relativo; que as pessoas têm preguiça, e que preguiça dá dinheiro; que todo mundo quer se sentir especial, e que isso também dá dinheiro; que equilíbrio é a palavra-chave para atravessar os dias; que seja o que for, vai passar; que a vida não cabe em uma teoria; que você atrai o que exala; que a força do pensamento existe e é realmente forte; que se você usar a razão sempre, você vai parecer chata…

Na tal ilha você vai dançar como se ninguém estivesse te olhando. E todo o mundo vai estar.

Você vai conhecer lugares e pessoas diferentes, e vai aprender que nenhum deles foi por acaso.

Nesses dez anos, você vai se despedir algumas vezes de quem você ama. Vai ter vontade de implorar para que fiquem ou te deixem ficar. Mas logo você vai entender que as partidas também não são por acaso.

Você vai se apaixonar. E vai sofrer como um cão sem dono. Vai dar vexame por causa da paixão. Vai falar e fazer o que não deveria, para quem não merecia.

Oh, céus, você vai errar tanto!

As pessoas vão julgar você, e você vai sofrer de novo.

Mas em um determinado momento, no finzinho dessa década de mais erros que acertos, você vai olhar para si e se pedir perdão por tudo o que fez consigo. E você vai se perdoar.

Você vai até mesmo conseguir rir das tolices que levaram você, de joelhos, até a frente do espelho.

Às pessoas que você magoou, você vai pedir perdão. E as que te magoaram você vai perdoar.

Fico feliz que não tenhamos problemas com isso de perdoar, que tenhamos um coração bom, Nara, eu e você.

Você vai descobrir que quem manda é mesmo o coração, mais até que o sangue. E você vai conseguir, depois de um tempo, preferir que seja mesmo assim.

Você não vai abandonar as calcinhas de bichinho e algodão. Nem o senso de justiça.

Você vai descobrir a literatura, e isso vai engordar a sua alma e fazer você ver o mundo de uma maneira muito mais bela.

As palavras sempre foram e sempre serão suas amigas, ainda que você fique um pouco desapontada ao descobrir que a linguagem nem sempre dá conta do que você sente.

Você vai fazer, diariamente, dezenas de pessoas prestarem atenção no que você diz do alto dos seus 1,54 metro. E isso vai fazer você se sentir grande.

Você vai lavar a alma no mar e lá, dentro mar, você vai sentir a presença de Deus de uma maneira como nunca sentiu enquanto ajoelhava no banco de uma igreja que dizia que para ser feliz você tinha que doer.

Você vai fazer uma tatuagem!

Não me olhe com essa cara de preconceito, acusando pecado ou afronta aos seus princípios.

Ela vai ficar linda em você. Um pedacinho da sua alma vai se tornar visível através dela.

Você vai tentar ler Nietzsche algumas vezes, mas vai se convencer de que é mais feliz ignorando-o. Você também não vai querer saber como se dá o abate dos animais de que você come a carne. Em vez disso, vai preferir suspirar pelo cheirinho de churrasco que o vizinho faz enquanto você almoça um miojo ou um omelete no domingo, longe da família.

Nara, você vai pensar muito e sobre tudo. A inquietação que te move vai te fazer falar uns palavrões às vezes (sim, palavrões, dos mais feios que você pode imaginar), chorar sentada de borboletinha embaixo do chuveiro em outras, e ter vontade de largar tudo e ir morar no mato em mais algumas. 

Mas a sua fé em Deus, na vida e em você mesma, na sua história e nos seus valores, vai fazer você feliz. E é este o segredo, que eu só conto para você: a fé.

Os anos são uma ventania, menina. Vêm intensa e rapidamente, levam o que e quem têm que levar; movimentam e refrescam o que é firme e quente o suficiente para permanecer em você. E a vida, ela é bonita, continua e dá voltas, toda “emperequetada”, com make, bijus, unhas coloridas e cabelos também. Viva!

Com todo o amor por mim,

Indianara.

12 comentários sobre “A mim, de mim.

  1. Vc é uma mini diva (mini pq ´tão pequena rsrs) com o coração mais que gigante…..contagia quem está perto e não tem como não rir com vc ou ficar feliz qdo se está triste ou acha que Deus nos deu as costas….a fé move tudo e amigos como vc é tão bom estar sempre por perto…..admiro vc, escreve muito bem…bjus #superfã

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